“Compostos naturais bioativos podem auxiliar na prevenção e no tratamento do diabetes”, explica nutricionista da Unifesp

Tem sido cada vez maior o número de pesquisas que avaliam a eficácia de compostos bioativos derivados de produtos naturais (como polifenóis) no tratamento ao diabetes mellitus (DM). Em revisão publicada por pesquisadores da Unifesp 4, foram analisados dados recentes da literatura sobre a utilização de polifenóis na prevenção e tratamento do DM e de suas complicações. Os compostos bioativos investigados foram: resveratrol, galato de epigalocatequina, genisteína, curcumina e extrato de ginkgo biloba.

Responsável por conduzir o estudo, a nutricionista Maria Fernanda Naufel, doutora em Nutrição e mestre em Pediatria pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), destaca que esses produtos naturais bioativos possuem efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes, além de ações benéficas ao perfil lipídico e homeostase da glicose. “Essas propriedades apontam para um potencial uso destes polifenóis como compostos antidiabéticos, que devem ser associados ao estilo de vida saudável, dieta adequada e possíveis medidas farmacológicas”, explica.

Para que possam ser utilizados de forma correta, contudo, elaressalta a importância de acompanhamento profissional. “Qualquer composto natural bioativo só deverá ser utilizado sob orientação médica ou de nutricionista. Esse cuidado é fundamental para o sucesso durante seu uso”, afirma.

A nutricionista explica em detalhes as propriedades de cada um desses produtos:

Resveratrol

Encontrado em grande número de plantas e produtos dietéticos, como uva (especialmente na casca e sementes), vinho tinto, cacau e amendoim. Devido suas potentes propriedades bioativas, vem sendo usado como composto medicinal natural há mais de 2 mil anos.

“Por apresentar propriedades anti-inflamatórias, antiproliferativas, antiplaquetárias e antioxidantes, se mostrou eficaz na prevenção e tratamento de uma variedade de condições, incluindo diabetes, envelhecimento, obesidade, doenças cardiovasculares, neurológicas, entre outros”, descreve Maria Fernanda.

O comitê da US Food and Drug Administration (FDA, 2017) adicionou o resveratrol à lista de substâncias medicamentosas que podem ser usadas para o tratamento da resistência à insulina em adultos. Contudo, embora estudos não tenham revelado efeitos colaterais graves após a administração oral de grande variedade de doses de resveratrol, até o momento não há uma dose diária recomendada por diretrizes.

Galato de epigalocatequina (EGCG)

“É o principal composto bioativo presente no chá verde. Consumido principalmente na forma de chás e de suplementos alimentares disponíveis no mercado. Embora ainda não estabelecida a dosagem ideal, o consumo diário de EGCG não deve exceder 300mg/dia”, explica a nutricionista.

O chá verde apresenta muitos efeitos benéficos à saúde, incluindo redução da gordura corporal e do colesterol, ações anti-inflamatórias, mudança na composição da microbiota intestinal e melhora da sensibilidade à insulina. Seus compostos bioativos (principalmente o EGCG) são os responsáveis pelos efeitos benéficos do chá verde, e podem atenuar o DM e suas complicações.

Genisteína

Pertence ao subgrupo de flavonoides denominado isoflavonas, sendo encontrada principalmente na família das leguminosas, que inclui a soja e a alfafa. Além de ser investigada como alternativa para terapia de reposição hormonal (devido seu efeito estrogênico), diversas pesquisas evidenciaram a influência benéfica do consumo de genisteína na prevenção de distúrbios metabólicos.

A nutricionista esclarece que “uma correlação inversa da ingestão de genisteína com o risco de desenvolver DM2 vem sendo sugerida por estudos experimentais e epidemiológicos. Ela pode atuar como um composto antidiabético devido suas ações anti-inflamatórias a antioxidantes, somado à sua capacidade de reduzir a ingestão alimentar e ganho ponderal, melhorando o controle glicêmico, o perfil lipídico e reduzindo a resistência insulínica.”

Apesar de ainda não ter sido estipulada sua dose diária, inúmeros ensaios clínicos conduzidos em diferentes patologias utilizaram doses que variam entre 40 e 120 mg/dia, obtendo resultados positivos sem efeitos colaterais importantes.

Curcumina

A cúrcuma (açafrão-da-terra) é membro da família do gengibre, e seu uso medicinal (atribuídos essencialmente à curcumina) na medicina tradicional indiana e chinesa remonta há 4 mil anos.

A curcumina apresenta efeito antioxidante, anti-inflamatório, antiproliferativo, antibacteriano, antineoplásico e antienvelhecimento. Consequentemente, tem potencial terapêutico em doenças como as cardiovasculares, renais e diabetes.

Seu consumo já foi aprovado pela FDA, e o comitê da OMS/FAO determinou ingestão máxima de 3mg/kg de peso/dia.

Extrato de Ginkgo Biloba (EGb)

Obtido das folhas secas da árvore Ginkgo Biloba, é uma das plantas medicinais mais vendidas no mundo. Sua eficácia, segurança e boa tolerabilidade foram confirmadas em diferentes condições patológicas. No entanto, sua combinação com agentes antiplaquetários não é recomendada. As doses diárias sugeridas variam de 120 a 240mg.

“Os principais efeitos terapêuticos dependem de suas características antioxidantes, anti-inflamatórias, vasodilatadoras e antiedematogênicas, que auxiliam na melhora do DM devido a redução da glicemia e da hemoglobina glicada. Além disso, devido suas propriedades neuroprotetoras, tem sido classicamente utilizado no tratamento de distúrbios neurológicos”, descreve.

Doença que preocupa no Brasil

De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, o Brasil é o 5° país em termos de incidência, com mais de 16,5 milhões de diabéticos adultos. O excesso de peso, por aumentar a inflamação, o estresse oxidativo e a resistência à insulina são os principais fatores de risco para o DM2.

O diabetes mellitus é uma doença crônica, caracterizada pelo aumento nos níveis de glicose no sangue, que pode levar a sérias complicações nas artérias, no coração, nos olhos, nos rins e nos nervos. Os dois principais tipos de DM são: tipo 1 e tipo 2 (DM2). No tipo 1, que acomete cerca de 5 a 10% do total de diabéticos, o sistema imunológico destrói as células beta, levando à deficiência ou ausência de insulina. No DM2, que representa cerca de 90% dos casos, ocorre produção insuficiente ou resistência à insulina (quando o organismo não utiliza a insulina de forma adequada).

*As informações são da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
**As imagens são do Pixabay.

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